domingo, 20 de maio de 2012

Eterna Melodia

Agarrei-me ao banco acolchoado,
ajeitei-me, respirei e dedilhei.
Uma nota única, um som único,
as notas desencadearam a surpresa,
sentimentos outrora esquecidos nasceram ali
Mais um dó, mais uma lágrima, mais uma nota perdida.

A platéia enxugou as lágrimas em seus panos brancos
choravam, bobamente, estupidamente.
Choravam na esperança da entender o porquê,
de esbarrar na verdade, uma verdade que só eu,
e ninguém além do eu, poderia entender.
Pobres homens e mulheres, chorando por nada,
teclei o Ré, suspiros, afagos, todos perdidos em meio à multidão.

A mesma música soou, noite após noite,
dia após dia, a platéia se repetia, rostos diferentes,
sorris diferentes, jeitos e gostos diferentes, mas no fim.
No fim o fim era sempre fim, e esse não mudava,
noite a noite eu me levantava, curvava e fechava as cortinas,
mais um show terminado,
Mais um Mi tocado, mais um fim cantado.

Oh Deus, quantas notas, quantos apertos,
quantos desejos, sonhos,
todos eles nascidos ao primeiro toque do piano,
e mortos no fim da apresentação.
Noite adentro de noite, dia adentro de dia,
Um fá e o público dispersava, desagrado,
apenas mais um show acabado.

E naquela mesma apresentação de sempre,
com o público carente de música, carente de mim,
olhei pela fresta da cortina e a vi lá, sentada,
olhando para frente, entrei, me curvei e toquei.
O silêncio reinou, e quando abri os olhos buscando o seus,
não havia nada, nem ninguém, estava só.
Só como o ultimo sol tocado.

Não havia mais show, nem vozes,
não havia nada além de mim e o velho piano,
riscado, quebrado, deteriorado,
me sentei no velho banco acolchoado e toque mais uma vez
a ultimas dela, e continuei a tocar sem parar,
um morto vivo sem vontade, sem sonhos, sem nada.
E o ultimo Lá nunca chegou, porque a maldita peça nunca se encerrou.


E nunca se encerraria... Nunca...


domingo, 6 de maio de 2012

Quarto Escuro

Eu escolhi,
viver aqui, nesse quarto
quarto que nunca tivera em meus sonhos
bobos sonhos, sonhos destinados ao nada.

Os olhos fecharam-se, solenes,
em silêncio profundo para com o resto,
sem dor, nem ardor, sem nada, apenas fechados.
Não chorei, tão pouco tentei reviver o passado,
apenas fechei os olhos e dormi, dormi para sempre.
O quarto se tornou meu túmulo,
as paredes negras minhas companheiras,
o som da água gotejante da chuva que caia no externo era o único companheiro,
um companheiro que de conforto nada trazia,
uma prisão, uma prisão negra e sem nada.
Apenas uma prisão... A prisão da minha mente.

E foi assim que fui perdendo,
perdendo o pouco que tinha,
perdendo a voz, o paladar, o olfato e a visão,
perdendo o toque, sem sentir frio,nem calor,
perdendo os sonhos..
Perdendo tudo.

E depois de dias, meses, anos
vivendo assim, na sombra de um falso alguém,
alguém que se intitulava como eu, tudo pesou
não tinha mais forças para nada, nem para pedir ajuda,
nem mesmo para gritar que amava, quem eu amava.
Nada, nada, nada, nada além do nada me ocupava,
e o peso em minhas costas continuou amargo, pesado.
E mais um dia, se foi...
Mais nada, mais do mesmo, e no novo amanhecer,
eu havia morrido.
Morto pela minha tolice, morto por mim mesmo.

Morto para sempre...

terça-feira, 1 de maio de 2012

História...

Boba história,
rabiscada em versos, em linhas,
em pequenas palavras que se apagarão.
Boba história,
que grita para ser ouvida, lida, vivida,
e só recebe nãos e nãos.

Oh mas que história boba,
sem desenhos, sem risos, apenas choros,
lamentações perdidas em couro.
Tão boba, pequenina,
vivida por apenas eu, e mais eu, um sonho solo
com os tão aclamados sons do velho Jimmy.

Mais um rabisco, oração, continuação
um eterno jogo de palavras, infinito de sonhos
finito de realidade.
Tão triste a história,
com um inicio, meio e fim, sem eterno,
apenas um ponto, o ponto final.

Tão bobinha, essa historinha
de um menino, sonhador, explorador,
“vivenciador”.
Garoto que chora quieto, miúdo,
apenas tendo seus soluços de companhia,
pobre garoto, tão bobo, tão tolo.

Ahh, mas essa história.
A história já tem fim!
E mesmo assim, sendo tão negro e ruim,
o garoto parou, não mais chorou,
ergueu a mão com seu urso de pelúcia e caminhou
era a história, a história dele.

Ah, mas tão boba essa história.
De um garoto sozinho, tão sozinho,
digno de pena.
Mesmo com o fim contado, o meio é enegrecido,
quem sabe o meio valha algo.
O pobre garoto, decidiu mais uma vez, viver a história.

Mais uma letra, palavra,
mais um verso, trecho,
mais uma estrofe, mais uma história,
mais um capítulo.
Será que dessa vez o fim vai ser diferente?
Florido, bonito? 

Oh boba história,
sem figuras nem cor, apenas rabiscos,
rabiscos de um garoto pequenino.
Versos bobos, poesia boba,
apenas um garoto contando uma história.
A história do seu amor.

Vela a pena garoto? Perguntou o autor.

Oh sim vale, vale sim... Sempre vale, por ela vale.